Começando a semana com uma notícia incrível e uma das novidades mais aguardadas do Node.js em anos, o suporte nativo ao uso de arquivos de ambiente, os chamados dotenvs ou env-config.
dotenv
Um dos pacotes mais comuns e mais utilizados em toda a comunidade, não só do JavaScript, é o pacote dotenv. Ele faz algo que é super simples mas ao mesmo tempo essencial: carrega variáveis de ambiente na memória do runtime.
Variáveis de ambiente são variáveis especiais que carregam dados protegidos que não podem ser expostos no código e ficam apenas disponíveis no ambiente na qual elas estão inseridas, por exemplo, uma VM ou uma função serverless.
Eu escrevi bastante sobre elas nesse artigo – inclusive usando a antiga forma de carregar as variáveis, com o dotenv
, então é até bacana para dar uma olhada em como o Node evoluiu desde lá – mas, essencialmente, variáveis de ambiente são o local ideal para armazenar usuários e senhas de bancos de dados, ou até mesmo secrets de tokens, já que, para acessar e buscar esses dados a aplicação precisa ter acesso à mesma máquina e ao mesmo host, o que é muito mais difícil do que ter acesso somente ao código.
Essas variáveis ficam armazenadas em arquivos que chamamos de dotenv
, ou .env
, que são arquivos definidos no formato INI
ou bash
dependendo do runtime que você está usando (para o dotenv seria o INI), então um arquivo de ambiente poderia ser assim:
SENHA=123
USUARIO=123
Porém a gente precisava sempre de um módulo para poder carregar essas variáveis, até a chegada do Deno.
Deno
O Deno mudou bastante a forma que runtimes olham para esses arquivos porque ele permite que você carregue diretamente da sua standard library, ou seja, ao invés de termos que instalar um módulo a parte, podemos usar o que é nativo do runtime:
// app.ts
import { load } from "https://deno.land/std@0.203.0/dotenv/mod.ts";
console.log(await load({export: true})); // { GREETING: "hello world" }
console.log(Deno.env.get("GREETING")); // hello world
Node 20
O Node 20.6 traz uma mudança fundamental que vai além até do que o Deno já fez, agora é possível ler arquivos .env direto do runtime.
Ao invés de termos que fazer:
require('dotenv').config()
const {DB_HOST, DB_PORT, DB_USER, DB_PASS} = process.env
const db = require('alguma-lib-de-banco-de-dados')
db.connect({
host: DB_HOST,
port: DB_PORT,
user: DB_USER,
pass: DB_PASS
})
Podemos simplesmente utilizar o comando node --env-file=<caminho> index.js
e todas as variáveis presentes no nosso arquivo definido no caminho serão carregadas no nosso process.env
. Por exemplo, imagine um arquivo .env
da seguinte forma:
DB_PASS=pass
DB_USER=root
DB_PORT=5432
DB_HOST=localhost
Quando executarmos o nosso Node com o comando node --env-file=.env index.js
, poderemos utilizar a variável process.env.DB_PASS
, e ela vai ter o valor de pass
, assim como as demais variáveis que estarão perfeitamente setadas na nossa aplicação para uso.
Mas essa não é a única novidade.
Node options
O Node.js permite que você crie uma variável de ambiente chamada NODE_OPTIONS
, ela permite que você defina todas as opções que seriam passadas ao node no comando principal diretamente na variável, ou seja, se quisermos, por exemplo, iniciar o Node com um inspetor (usando a flag --inspect
) podemos utilizar: NODE_OPTIONS='--inspect'
e agora todas as execuções de node index.js
vão ser como se fossem escritas node --inspect index.js
Antigamente existia uma forma de deixar essas configurações no package.json
, mas o suporte a envs muda tudo, agora você pode deixar as opções do Node (exceto, claro, o próprio --env-file
) em uma variável de ambiente:
NODE_OPTIONS='--inspect --loader=tsx'
Como eu mostrei no meu artigo sobre TSX, podemos carregar arquivos TypeScript nativamente usando um loader, a ainda por cima podemos carregar o nosso arquivo de ambiente direto, com o comando acima vamos poder rodar node --env-file=.env index.ts
, por exemplo.
Conclusão
Essa funcionalidade é gigante! Enquanto tira um pacote da nossa lista de dependências, ela ainda permite deixar o nosso código mais simples e direto, mas lembre-se que ela só está disponível a partir da versão 20.6.